{ opinión }

A estupidez de um ‘lobby’ galego

María do Carmo Henríquez Salido

María do Carmo Henríquez Salido

UM LOBBY é um grupo organizado de pressom sobre poderes públicos ou políticos que visa exercer qualquer influência no seu alcance; esses grupos som muito heterogéneos (acadêmicos, culturais, económicos, editoriais, lingüísticos, políticos, universitários, etc.) e podem ser de âmbito nacional ou internacional. O espaço temporal deste lobby que glossamos abrange desde 1973, quando se publica um artigo do filólogo português Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989) na revista Grial, nº 41, que motivou um forte e esclarecedor debate na Galiza, até o ano 2023, incluído um procedimento para elaborar umhas Normas ortográficas e morfológicas do idioma galego (1982) com ausência de rigor científico.

O artigo do professor Lapa intitulava-se "A recuperação literária do galego", considerava a Galiza como “a sua própria terra” e dizia que “historicamente e geograficamente é assim, pois, estou dentro dos limites da velha Galécia”, afirmava que se sentia vinculado a ela “pelo coração, que apoiava naturalmente todos os que defendem a sua liberdade e a sua cultura”. Continha umha série de pautas gramaticais, lexicais e ortográficas para “limpá-la, fixá-la e dar-lhe esplendor”, para assim unificá-la progressivamente com a luso-brasileira. Gerou um profundo debate com ensaistas que mostravam o seu otimismo pola expansom crecente da língua galega, como Ramom Pinheiro (1915-1990), um dos promotores das futuras Normas (1982) e defensor do desaparecimento do histórico “Partido Galeguista”. Entre os contrários a esse otimismo, aparecêrom as vozes de Martinho Santalha, Carvalho Calero, Guerra da Cal, e do filólogo catalám Joan Coromines (1905-1997), coautor do excelente Diccionário crítico etimológico castellano e hispánico.

Os integrantes desse lobby atraiçoárom os postulados de filólogos do século XVIII (Sarmiento), escritores do século XIX (Pondal), gramáticos (Valadares), intelectuais e figuras da cultura e da política (Murguia, Antom Vilar Ponte, Vicente Risco, Viqueira, Castelao...). Mesmo nom dérom tempo a que funcionassem transitoriamente as Normas Ortográficas do Idioma Galego (1980) da Comissom Lingüística integrada, entre outros, por Carvalho Calero, Filgueira, Martínez Lôpez ou Pensado, aprovadas polo Governo galego, nas quais avisavam de que o processo de normalizaçom era laborioso e delicado.

Contodo, esse lobby nucleou essas Normas num conjunto de falares dialetais, com muitos castelhanismos, vulgarismos e umha ortografia subordinada à língua castelhana, prescindindo das variedades lusitana e brasileira. Decorridos cinqüenta anos, o resultado é um absoluto fracasso da política lingüística e cultural: o galego perde falantes, no quadro de umha “normalizaçom” oficialista que carece de umha norma padrom elaborada com os parámetros próprios das línguas históricas, que fomente o prestígio social do idioma e o habilite para ser umha língua internacional e válida para a ciência.